Findando o inverno, a primavera nos espera e com ela as mais variadas flores, coloridas, em seu papel de alegrar e maravilhar os olhos mais exigentes. Mas sabemos que nem todas as árvores esperam a primavera para florir, ainda que seja esta uma forma de sobrevivência. Algumas assumiram o compromisso de alegrar o “cinza” do inverno. É o que todos sabem a partir da lenda dos ipês.

Ipê amarelo. Foto: Shizo

Conta-se que Deus, um dia, se reune com as plantas e pede que cada uma delas escolha uma época para florir. Cada uma dita uma ocasião: primavera, verão, outono, mas ninguém escolhe o inverno e Deus, preocupado, pergunta o porquê. Todas argumentam pelo frio demasiado, a seca, as queimadas, até que humildemente, mas corajosamente, um pé de ipê se oferece para florir nesta estação tão inóspita. Deus então lhe promete as mais variadas cores por tão nobre oferecimento. Por isso os ipês apresentam-se ao longo da estação, flores rosas, roxas, brancas, amarelas, lindas e abundantes, cada um a seu tempo.

Ainda que uma lenda, sabemos que, de fato, inúmeros pássaros são atraídos por esta exuberância e que nos extasiam pela alegria. São sanhaços, sabiás, maritacas, periquitos, beija-flores entre tantos outros viventes desta flor, completando o visual maravilhoso e assumindo seu papel de polinizador ou simplesmente em busca de uma sombra e alimento.

Mas há um fato, que particularmente me emociona muito e nos serve de exemplo, ou deveria servir. Justamente por ser uma planta que floresce no inverno, onde a seca se faz presente e, portanto, as queimadas são constantes, o ipê, planta nativa do cerrado, é o primeiro a brotar e florir após uma queimada, trazendo beleza e alegria a uma paisagem triste e árida. Isto não é maravilhoso? Por isso, para muitos, o ipê é o símbolo da resiliência, pois, por mais triste que seja a paisagem, ele será o primeiro a dar sinal de vida e esperança de renovação. Não será um exemplo para nós humanos, que quando frente às adversidades, devemos ir além da sobrevivência, em busca da reconstrução? Quantas outras pessoas dependem e esperam de nós? Quando vejo estas árvores floridas, não posso deixar de lembrar-me disto e, após a emoção, uma alegria imensa me toma, impelindo-me a resistir.

Lúcia Helena Campolim tem 59 anos, é casada, mãe de 2 filhos. É bióloga, pedagoga, especialista em Nutrição Humana, com formação em Tutoria para EaD e Ensino para Jovens e Adultos. Trabalha no Centro Paula Souza há 36 anos, exercendo atualmente a função de Coordenadora Pedagógica.